A Construção da Notícia: Reflexões sobre a Cultura Jornalística em sua Dimensão Técnica e Ética

Escrito por Ghibson Yuri Pereira

A primeira parte da disciplina de Jornalismo Especializado e Tendências em Jornalismo nos ofereceu uma base sólida para compreender a profissão não apenas como um ofício, mas como um campo social complexo, com suas próprias regras, valores e dinâmicas. Ao aprofundarmos a reflexão sobre a cultura noticiosa, pudemos constatar que o fazer jornalístico se estrutura a partir de um alicerce que combina rigor técnico e compromisso ético, elementos essenciais para a sua legitimidade e relevância na sociedade. Essa dualidade, conforme o que foi estudado, é o que define o jornalismo e o distingue de outras formas de comunicação.

No âmbito técnico, a profissão se organiza em torno de três saberes constitutivos que, como etapas de um processo, guiam o jornalista na produção da notícia. O primeiro deles é o saber de reconhecimento, que nos capacita a identificar e selecionar, entre a infinidade de acontecimentos diários, quais são os “fatos-marcados” dignos de pauta. A noticiabilidade não é um fenômeno natural, mas uma escolha que considera valores como relevância, notoriedade e conflito. Uma vez definida a pauta, o saber de procedimento entra em ação. Esta é a fase da apuração, o cerne da credibilidade. Nela, o jornalista se dedica a investigar, checar dados e conduzir entrevistas com fontes de diversas naturezas — oficiais, especializadas e populares —, buscando a veracidade e a procedência das informações. Por fim, o saber de narração é a etapa em que o relato ganha forma, por meio de uma estrutura composicional, como a pirâmide invertida, e um estilo de linguagem, como a objetividade, que garantem a clareza e a precisão do texto informativo.

Contudo, a aplicação desses saberes não ocorre em um vácuo. A dimensão técnica é inseparável da dimensão ética, que se traduz nos valores de verdade, objetividade e atualidade. A busca pela objetividade, em particular, é um desafio constante. Conforme a perspectiva interacionista de Nelson Traquina, a notícia não é um simples “espelho” da realidade. Ao contrário, ela é o resultado da interação entre múltiplos fatores — profissionais, organizacionais, sociais, culturais e políticos. Essa visão nos alerta para a frágil autonomia do campo jornalístico, que está em constante negociação com agentes internos (como a linha editorial e o viés dos próprios jornalistas) e externos (como pressões econômicas, interesses políticos e demandas da audiência). Reconhecer essa dinâmica nos leva a uma reflexão crítica: a objetividade plena é uma quimera, mas a vontade de ser objetivo, o esforço em ouvir todos os lados e a transparência em relação aos fatos são a bússola ética do profissional.

Em conclusão, a jornada de aprendizado sobre a cultura noticiosa revelou que o jornalismo é uma atividade complexa e multifacetada. Ele se sustenta em um tripé de saberes técnicos essenciais para a sua prática diária, mas que só ganham sentido e propósito quando ancorados em valores éticos sólidos. O maior desafio do jornalista contemporâneo é navegar nesse cenário, compreendendo que a notícia é uma construção social e que, por isso, sua responsabilidade não é apenas relatar fatos, mas fazê-lo de forma consciente, crítica e plural. Atuar como um mediador reflexivo, e não como um espelho passivo, é a essência do jornalismo em sua forma mais nobre e necessária para o funcionamento de uma sociedade democrática.

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