Escrito por Sirlei Bittarello
O jornalismo é uma atividade que transcende a mera transmissão de informações. Longe de ser um ofício simples, ele se configura como um campo social complexo e dinâmico, com suas próprias regras e valores. A qualidade e a relevância da profissão em uma sociedade democrática dependem de um equilíbrio constante entre sua dimensão técnica e seu compromisso ético. A compreensão dessa dualidade é fundamental para qualquer profissional que busque atuar de forma consciente e crítica.

O Tripé da Notícia: Os Saberes Essenciais
Na prática diária, o jornalismo se apoia em três saberes fundamentais que guiam a produção de cada reportagem.
- Saber de Reconhecimento: A primeira etapa é saber o que é notícia. Em vez de ser um fenômeno natural, a noticiabilidade é uma escolha que considera critérios como a relevância, notoriedade e conflito dos fatos. É a capacidade de identificar, no meio da infinidade de eventos diários, aqueles que são dignos de se tornarem pauta.
- Saber de Procedimento: Depois de definir a pauta, é hora de investigar. Esta é a fase da apuração, o coração da credibilidade jornalística. O profissional se dedica a checar dados e entrevistar fontes de diversas naturezas — como oficiais, especializadas e populares — para garantir a veracidade das informações.
- Saber de Narração: Por fim, o relato ganha vida. A redação utiliza uma estrutura composicional como a pirâmide invertida e um estilo de linguagem objetivo para garantir a clareza e precisão do texto informativo.
A Ética da Profissão: Mais que um Espelho da Realidade

Mas a aplicação desses saberes técnicos não ocorre em um vácuo. Eles são inseparáveis da dimensão ética, que se traduz nos valores de verdade, objetividade e atualidade. A busca pela
objetividade, em particular, é um desafio constante. Conforme a perspectiva interacionista de Nelson Traquina, a notícia não é um simples “espelho” da realidade. Ela é o resultado da complexa interação entre múltiplos fatores, incluindo profissionais, organizacionais, sociais, culturais e políticos.
Essa visão nos lembra da “autonomia frágil” do campo jornalístico, que está em constante negociação com agentes internos, como a linha editorial e o viés dos próprios jornalistas, e externos, como pressões econômicas e interesses políticos. A objetividade plena é um ideal inalcançável, mas a vontade de ser objetivo, o esforço para ouvir todos os lados e a transparência em relação aos fatos são a verdadeira bússola ética do profissional. O jornalista atua como um mediador reflexivo, não um observador passivo.
Um ofício complexo, mas necessário
Em conclusão, a jornada de aprendizado sobre a cultura noticiosa revela que o jornalismo é uma atividade multifacetada, sustentada por um tripé de saberes técnicos que só ganham propósito quando alicerçados em valores éticos sólidos. O maior desafio para o jornalista contemporâneo é navegar nesse cenário, compreendendo que a notícia é uma construção social e que sua responsabilidade vai além de simplesmente relatar fatos. A essência de um jornalismo nobre e necessário para a democracia reside em atuar de forma consciente, crítica e plural.