Jornalismo na Encruzilhada: A Dualidade entre a Técnica e a Ética

Caneta, bússola e caderno de anotações abertos sobre uma mesa de madeira.

Escrito por Sirlei Bittarello

O jornalismo é uma atividade que transcende a mera transmissão de informações. Longe de ser um ofício simples, ele se configura como um campo social complexo e dinâmico, com suas próprias regras e valores. A qualidade e a relevância da profissão em uma sociedade democrática dependem de um equilíbrio constante entre sua dimensão técnica e seu compromisso ético. A compreensão dessa dualidade é fundamental para qualquer profissional que busque atuar de forma consciente e crítica.

Uma foto em close-up de uma caneta-tinteiro preta e dourada, uma bússola de metal dourada e um caderno de espiral aberto, todos dispostos sobre uma mesa de madeira. O foco está nos objetos, com a caneta e a bússola posicionadas ao lado do caderno, que tem as páginas em branco. A imagem evoca a essência da escrita, da descoberta e da orientação.

O Tripé da Notícia: Os Saberes Essenciais

Na prática diária, o jornalismo se apoia em três saberes fundamentais que guiam a produção de cada reportagem.

  1. Saber de Reconhecimento: A primeira etapa é saber o que é notícia. Em vez de ser um fenômeno natural, a noticiabilidade é uma escolha que considera critérios como a relevância, notoriedade e conflito dos fatos. É a capacidade de identificar, no meio da infinidade de eventos diários, aqueles que são dignos de se tornarem pauta.
  2. Saber de Procedimento: Depois de definir a pauta, é hora de investigar. Esta é a fase da apuração, o coração da credibilidade jornalística. O profissional se dedica a checar dados e entrevistar fontes de diversas naturezas — como oficiais, especializadas e populares — para garantir a veracidade das informações.
  3. Saber de Narração: Por fim, o relato ganha vida. A redação utiliza uma estrutura composicional como a pirâmide invertida e um estilo de linguagem objetivo para garantir a clareza e precisão do texto informativo.

A Ética da Profissão: Mais que um Espelho da Realidade

Mas a aplicação desses saberes técnicos não ocorre em um vácuo. Eles são inseparáveis da dimensão ética, que se traduz nos valores de verdade, objetividade e atualidade. A busca pela

objetividade, em particular, é um desafio constante. Conforme a perspectiva interacionista de Nelson Traquina, a notícia não é um simples “espelho” da realidade. Ela é o resultado da complexa interação entre múltiplos fatores, incluindo profissionais, organizacionais, sociais, culturais e políticos.

Essa visão nos lembra da “autonomia frágil” do campo jornalístico, que está em constante negociação com agentes internos, como a linha editorial e o viés dos próprios jornalistas, e externos, como pressões econômicas e interesses políticos. A objetividade plena é um ideal inalcançável, mas a vontade de ser objetivo, o esforço para ouvir todos os lados e a transparência em relação aos fatos são a verdadeira bússola ética do profissional. O jornalista atua como um mediador reflexivo, não um observador passivo.

Um ofício complexo, mas necessário

Em conclusão, a jornada de aprendizado sobre a cultura noticiosa revela que o jornalismo é uma atividade multifacetada, sustentada por um tripé de saberes técnicos que só ganham propósito quando alicerçados em valores éticos sólidos. O maior desafio para o jornalista contemporâneo é navegar nesse cenário, compreendendo que a notícia é uma construção social e que sua responsabilidade vai além de simplesmente relatar fatos. A essência de um jornalismo nobre e necessário para a democracia reside em atuar de forma consciente, crítica e plural.

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